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Em 2021, não teremos festa de São Jorge em Quintino

Pelo segundo ano seguido, a pandemia adia os planos dos devotos. Em entrevista ao Pelos Subúrbios, Padre Dirceu, pároco da Igreja de São Jorge, fala sobre a relação dos fiéis com o santo e projeta os festejos  pós-pandemia

20 de abril de 2021, 10h05
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Igreja de São Jorge. Imagem: João Vitor Costa

Na chegada à Igreja de São Jorge, localizada em Quintino, na Zona Norte do Rio, é preciso subir alguns degraus brancos até avistar a paróquia, agora pintada de amarelo, e sua torre — com um sino e a imagem do santo, dono da casa, em cima de seu cavalo branco, golpeando o dragão. Esse curto percurso levaria tempo em dia de festa, pela enorme quantidade de fiéis vestidos de vermelho e branco nos degraus e na rua, a Clarimundo de Melo. Mas encontrar o pároco Padre Dirceu de máscara num estacionamento às moscas só reforça que não estamos em momento de festa. Assim como em 2020, o dia 23 de abril deste ano será com portões fechados.

São Jorge é, sem dúvidas, um dos santos mais populares do Rio de Janeiro. Protegendo policiais, bombeiros, balcões de botequins e a cada um que precise matar um “dragão” por dia, o santo guerreiro é, desde 2019, considerado padroeiro do Estado do Rio de Janeiro, ao lado de São Sebastião. Mas, entre 2001 e 2019, São Jorge era o único não-padroeiro a ter para si um feriado na cidade do Rio, privilégio até então apenas de Nossa Senhora Aparecida (padroeira do Brasil) e de São Sebastião (padroeiro da cidade).

Padre Dirceu Rigo, pároco da igreja de Quintino desde 2013, em entrevista ao Pelos Subúrbios, conta que vê algo diferente na relação entre São Jorge e os devotos: “Eles têm uma intimidade muito maior, uma proximidade com São Jorge”, comenta. “Quando eles chegam lá na frente [da imagem], parece que estão vendo um amigo que eles já conheceram há muito tempo.” Mas, justamente por essa relação próxima, a pandemia da COVID-19 atrapalhou esse contato. No início das medidas restritivas, em 2020, a igreja ficou de portões fechados, segundo o Padre Dirceu, por 107 dias.

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Padre Dirceu em frente à imagem de São Jorge. Imagem: João Vitor Costa

“O devoto de São Jorge, quando vê o portão aberto, quer entrar. Ele não escolhe a missa das 7h, das 8h ou das 10h, ele se sente à vontade, passa aqui e quer entrar.” É assim que o padre descreve a rotina atual das missas. Logo após a reabertura da paróquia, as cerimônias eram feitas no estacionamento – que, até hoje, ainda tem no seu chão as marcas de onde os fiéis deveriam ficar, para manter o distanciamento. Hoje, as missas já estão sendo realizadas dentro da igreja, mas é necessário se inscrever para assistir à celebração presencialmente, o que o pároco fala que pode parecer para o fiel – tão íntimo do santo – que está sendo desrespeitado: “E quando você diz ‘Você não pode entrar na igreja porque você não está inscrito’, ele se sente ofendido”, descreve.

Em 2020, a tradicional festa de São Jorge não aconteceu. Inicialmente pensava-se que estava sendo apenas adiada, mas a proliferação do coronavírus não acabou e, por isso, o que se imaginava fazer fora de época, acabou ficando para outro dia 23 de abril: e não será o de 2021. Justamente porque vivemos um dos piores momentos da pandemia, com o Estado do Rio acumulando mais de 41 mil mortos até a terceira semana de abril. Esse número é 32% maior, por exemplo, do que a população residente de Quintino – bairro que abriga a Igreja de São Jorge – com seus 31 mil moradores, de acordo com o último CENSO.

Para a festa de São Jorge de 2021, Padre Dirceu conta que, “conversando com as autoridades”, ficou decidido que a paróquia de Quintino estará de portões fechados no dia 23 de abril, mas as celebrações poderão ser acompanhadas através da página do facebook “Igreja Matriz São Jorge – Quintino/ RJ”. E a programação é a seguinte:

  • 5h: Missa da Alvorada, com o toque do clarinete e queima de fogos – transmitida também pela Rede Vida;

  • 10h: Missa celebrada pelo Arcebispo do Rio, Dom Orani Tempesta;

  • 15h: Terço da Misericórdia;

  • 18h: Missa de encerramento.

Para quem preferir o evento presencial, no dia 22, quinta-feira, a Igreja de São Jorge realizará 11 celebrações (às 7h, às 8h, às 9h, às 10h, às 11h, às 14h, às 15h, às 16h, às 17h, às 18h e às 19h). Para comparecer, é necessário que o devoto reserve seu lugar – através do WhatsApp (21) 99625-0750 – e respeite as marcações feitas nos bancos para manter certa distância entre os 100 fiéis presentes em cada uma das missas.

 

No dia 24, sábado, também terão duas missas (às 10h e às 18h), que funcionarão no mesmo esquema: reserva de lugares e respeito às marcações nos bancos da igreja.

 


 

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Interior da paróquia vazio. Imagem: João Vitor Costa

A não-realização da festa do dia 23 de abril, em que a Rua Clarimundo de Melo ficava interditada para os carros e era colorida de vermelho e branco — pelas barraquinhas e pelo milhão de devotos vestidos com as cores do santo —, mexe não só nas tradições, em si, mas também nos cofres da paróquia. “Não tivemos aquela arrecadação forte da festa, onde passa muita gente”, relata o pároco. “A entrada da festa é cerca de 90% do sustento anual da igreja, já que tem meses que fechamos no vermelho.”

Assim como em 2020, Padre Dirceu Rigo cogita uma festa de São Jorge fora de época em 2021, possivelmente em outubro (a depender da vacinação da população e da situação da pandemia até lá). Mas o pároco projeta “uma atração muito forte, seja na parte religiosa, seja na cultural” é para 2022. “Se nós, no ano que vem, estivermos aí, é um sinal que estamos salvos, estamos vivos.”

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